CECÍLIA ALDAZ

Sommelier

Argentina

Há cerca de dez anos, o mercado brasileiro de sommeliers era essencialmente dominado por homens. Foi em 2010 que uma argentina, nascida na cidade de Mendoza, desembarcou no Rio de Janeiro para mudar um pouco esse perfil. Ganhadora de três prêmios de Sommelier do Ano pela revista Veja Rio Comer & Beber e de dois na mesma categoria pela revista Época, Cecília Aldaz é a responsável pela carta de vinhos de dois dos restaurantes mais badalados da atualidade: o Oro, detentor de duas estrelas do Guia Michelin, localizado no Rio, e o Pipo, em São Paulo. Ambos são chefiados por Felipe Bronze, companheiro de Cecília e um dos mais importantes profissionais da área. Por conta da pandemia, em 2021, após experiência como apresentadora de televisão, a sommelier embarca em uma nova atividade: a de influenciadora digital.

Cecília Aldaz: A Sommelier de Anos

 

Ela é nascida na cidade de Mendoza, a principal região produtora de vinhos da Argentina. O sotaque permanece inconfundível, pois nem os muitos anos vividos fora de seu país a fizeram esquecer do castelhano. E nem de onde veio o seu interesse pela enologia. Cecília Aldaz é considerada um dos maiores nomes da atualidade no cenário do vinho no Brasil e muito disso se deve ao lugar de onde veio. “Mendoza é responsável, hoje, por cerca de 75 a 80% da produção de vinhos na Argentina. Tem vinícolas por toda parte. É uma escola e quase um destino certo para quem nasce naquela região”, conta.

 

A carreira de Cecília começa com os estudos em técnica química e uma especialização em enologia. O primeiro trabalho conquistado foi dentro de um laboratório. Mas o jeito expansivo e articulado a fizeram ter contato com o público dentro das vinícolas, muito frequentada por turistas que buscavam informações sobre como o vinho é elaborado. Cecília conta que o enólogo responsável pelo espaço era de origem suíça e foi ele quem deu o primeiro empurrão para que Cecília Aldaz realizasse seu primeiro grande sonho: conhecer o mundo.

 

Ainda muito jovem, Cecília largou o cargo de gerente na vinícola e foi em busca de novos desafios. Seu chefe a indicou para um trabalho a 80km de Munique, na Alemanha. Em paralelo ao trabalho, estudou relações internacionais e economia. “Foi uma experiência difícil, pois Mendoza é considerada a terra do sol e do bom vinho. E lá já era noite às três da tarde”, relembra, completando que essa diferença climática foi primordial para a decisão de se mudar para a Turquia, em uma temporada de estudos.

 

Ao decidir voltar para as vinícolas, partiu de mala e cuia para a Suíça. E lá reencontrou um amigo que a convidou para visitá-lo no Brasil. Segundo Cecília, à época, o dólar custava quase o mesmo preço que o real e foi assim que começou a história da premiada sommelier em terras brasileiras, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, onde mora até hoje.

 

“Eu não sabia falar português e a melhor coisa que eu poderia fazer era um curso na Associação Brasileira de Sommeliers. Foi ali que um professor me disse que estavam abrindo um restaurante espanhol na cidade e que meu sotaque seria uma espécie de licença poética”, se diverte. Foi quando Cecília conheceu Felipe Bronze, a quem apresentou uma série de vinhos espanhóis, especialidades da casa.

 

Com menos de 30 anos, ela foi convidada então por Felipe para trabalhar como sommelier no Oro. O chef a convocou para fazer algo diferente, combinando a carta de vinhos com um menu harmonizado e diferenciado. E, assim, ambos começaram a namorar e deram início a uma das parcerias mais bem sucedidas do mercado gastronômico brasileiro. Cecília chegou ao Brasil no ano de 2010 e nunca mais foi embora. Felipe é o criador dos pratos e Cecília, além das cartas de vinhos, é quem cuida da parte administrativa dos restaurantes Oro, no Rio, e Pipo, em São Paulo.

 

A cozinha brasileira de vanguarda rendeu ao Oro suas duas estrelas no Guia Michelin nos anos de 2015 e 2018 e diversas outras premiações, entre elas os prêmios de Sommelier do Ano para Cecília Aldaz na revista Vejo Rio Comer & Beber nos anos de 2013, 2014 e 2016 e, em 2016 e 2017, na revista Época.

 

“Se busca uma experiência gastronômica de verdade, sem dúvida você deve conhecê-lo. A perfeita parceria do chef Felipe Bronze com sua esposa, a sommelier argentina Cecília Aldaz, transformará sua visita em um momento digno de recordação”. É esta frase destacada do Guia Michelin que define para, além da parceria do casal, a importância de Cecília à frente da carta de vinhos do restaurante.

 

As atividades de Cecília como administradora e sommelier a levaram à apresentação de duas temporadas do programa “Um brinde ao vinho”, transmitido no canal Mais na Tela, da Globosat. Do sul do Brasil à Portugal, passando pelo Chile e pela Argentina, a atração busca contar as histórias de produtores da bebida e também transformar a linguagem do vinho em algo mais acessível. A experiência como apresentadora só contribuiu para um novo tipo de empreendimento de Cecília. Por conta da pandemia, o Oro e o Pipo tiveram suas portas fechadas durante sete meses, o que motivou a sommelier a investir em uma nova função: influenciadora digital. “No restaurante, as pessoas viviam me pedindo dicas. Em fevereiro de 2021, comecei a participar de algumas lives e a produzir conteúdo para o meu perfil no Instagram. Acabei gerando bastante engajamento entre os meus seguidores”, ela explica.

 

Por conta dos conteúdos publicados em suas redes sociais, Cecília passou a receber propostas e contratos de parcerias com empresas como o mercado Oba Hortifruti, com a qual criou uma webserie chamada “Momentos”, com dicas da sommelier. Outras marcas como XP Investimentos, Itaú, Sadia, Amil e Família Salton também a procuraram. E, então, a sommelier conseguiu dar continuidade à sua crença de que é preciso popularizar o vinho no Brasil. “Em meu país, todo mundo bebe mas não fala de vinho. No Brasil, as pessoas só falavam de vinho no jantar, com certa empáfia, ou não falavam nada, por vergonha, por não saberem nada sobre o assunto”, conta. E assim, em seus stories, publica enquetes e dicas que facilitam o entendimento sobre a história e sobre como escolher um bom vinho. “No Brasil, há um espaço enorme para mostrar às pessoas que o vinho é feito para ser bebido. As pessoas podem aprender mais à medida em que são ‘picadas pelo bichinho do vinho’”, acredita ela, cujas bebidas brasileiras são as tradicionais caipirinha e caju amigo, autênticos aperitivos da nossa mesa.